sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

O que o acordo Ford-Volkswagen revela sobre a indústria automotiva; o som digital da moto elétrica da Harley e a difícil fase da Tesla


A Ford e a Volkswagen anunciaram uma parceria global na última semana para aumentar a escala de produção de veículos. O acordo, tornado público antes do início do Salão do Automóvel de Detroit, não envolve a troca de participações acionárias.

Segundo o comunicado, as empresas vão começar com o desenvolvimento conjunto de uma picape, a ser lançada até 2022. Depois serão feitas van comerciais para o mercado da Europa. O plano é trabalhar juntas no desenvolvimento de veículos elétricos e autônomos.

Como já aconteceu no passado na América do Sul, quando as duas montadoras criaram a joint-venture Autolatina para enfrentar os tempos difíceis dos mercados argentino e brasileiro na virada dos anos 80 para os anos 90, Volkswagen e Ford deverão também compartilhar unidades fabris, redes de distribuição e de revenda.

Mas se a Autolatina foi desfeita no passado, então por qual razão daria certo um acordo similar agora?

A resposta envolve basicamente a mudança do modelo de negócio dessas empresas, algo impensável há trinta anos. Ford e Volkswagen não querem ser mais empresas apenas de carros, mas empresas de mobilidade. Segundo estudo da consultoria KMPG, plataformas de serviços vão corresponder a um faturamento anual de 720 bilhões de dólares para as montadoras em 2030. Será um aumento de 2.300% em relação ao ano de 2016. Em comparação, o crescimento oriundo de vendas irá crescer 45% no período.

E o óbvio: para que os serviços de compartilhamento ou de carros autônomos funcionem, é preciso continuar a fabricar carros. E se for possível fabricar os veículos com um custo mais baixo e em diferentes lugares, como a parceria entre as empresas pretende, então melhor ainda. As fábricas deixarão de ser o ativo principal para dar lugar ao software e às experiências fornecidas aos clientes.

O anúncio da parceria global foi talvez o último grande ato do Salão de Detroit. O ano 2019 marca a última edição, depois de 112 anos, no mês de janeiro. Sem a presença de marcas como Mercedes-Benz, BMW, Audi, Volvo e Land Rover este ano, o salão irá acontecer a partir de 2020 no mês de junho, quando os organizadores esperam que o clima quente do meio do ano na cidade atraia mais visitantes para atividades que serão pensadas ao ar livre.

A verdade mesmo é o que o os olhos da indústria se voltam em janeiro para a CES, em Las Vegas. Neste ano, tivemos conceitos apresentados pela Audi, Hyundai, Bosch e Harley-Davidson, que apresentou o seu modelo elétrico LiveWire capaz de produzir um ronco artificial com base nos tradicionais motores da marca. Sons de um novo tempo.

(Ainda sobre parcerias: prometo voltar no futuro sobre a aliança Nissan-Renault-Mitsubishi, a derrocada de Carlos Ghosn e a tentativa do governo francês de fundir as empresas)
Demissões na Tesla

Ouvi de um entrevistado certa vez a melhor explicação sobre a indústria automotiva. Ele me disse que o que uma montadora sabe fazer é lidar com complexidade ao combinar diferentes fornecedores. Portanto, essa seria uma tarefa difícil de ser realizada por novos entrantes, uma vez que as empresas aperfeiçoaram seus sistemas de montagem ao longo de vários anos. Não chega a me surpreender o anúncio de que a Tesla vai cortar 7% de sua força de trabalho devido aos baixos lucros. Serão demitidos cerca de 3 mil funcionários. Em carta, Musk reconheceu que os carros são caros demais e voltou a tocar no problema da produção. “Em maio, precisamos entregar o Model 3 em todos os mercados, porque precisamos alcançar consumidores que possam pagar por nossos carros”, ele escreveu.
GM: blefe ou verdade?

Mary Barra, presidente Global da General Motors, afirmou que a empresa estava revisando as operações na América do Sul Carlos Zarlenga, presidente da montadora na região, subiu ainda mais o tom ao dizer, em comunicado, que “após incorrer em fortes perdas nos últimos três anos, a operação atingiu um momento crítico que exige sacrifícios de todos". Estaria a GM disposta a sair do Brasil? Para os especialistas ouvidos pela revista Quatro Rodas, deixar o país seria um exagero, pois a empresa acabou de anunciar uma nova linha de produtos. A revista afirma que a fabricante está com iniciativas para reduzir custos, incluindo comissões mais enxutas para revendedores e negociação de preços com fornecedores.
Outras notícias que você deveria ler

Desafio #10yearschallenge pode ser usado para treinar IA do Facebook. O alerta foi feito pela jornalista Kate O’Neill. Apesar de divertida, a comparação entre duas fotos de uma mesma pessoa poderia ser usada também para o aprendizado de máquinas, ela alerta. As mais de 3,5 milhões de imagens no Instagram formariam um bom acervo para que um computador pudesse sozinho antecipar um processo de envelhecimento, ou reconhecer alguém com base em uma fotografia antiga.

Cremona se mantém em silencia para salvar o som dos Stradivarius. A reportagem do New York Times, traduzida por diversas publicação brasileiras, traz a história curiosa de como a cidade italiana cortou o fluxo de carros e seus habitantes pararam de conversar para que o som dos violinos produzidos por Antonio Stradivari, entre os séculos 17 e 18, sejam captados perfeitamente. Um carro passando numa rua de paralelepípedo poderia enviar vibrações pelo solo e alterar o som captado pelos microfones. Os engenheiros estão captando todos os sons possíveis do violino. No futuro, quando o último instrumento feito pelo mestre italiano já não puder ser mais tocado, um software poderá manipular os sons catalogados e tocar qualquer obra. (Você conseguiria reconhecer o som de um Stradivarius?Escute esse teste feito pelo músico Roman Simovic, spalla da Sinfônica de Londres, e depois me conte o que achou).

FOTO | Acordo em Detroit: Jim Hackett, da Ford, cumprimenta Herbert Diess, da Volkswagen (Crédito: AP Photo/Carlos Osorio)

Sobre está série quinzenal: falo sobre um conjunto de tecnologias que estão transformando o mundo e os negócios. A referência aqui é, claramente, ao termo Indústria 4.0, também chamada de Quarta Revolução Industrial. Essa expressão agrega tanto inteligência artificial, robótica, como big data, analytics e biotecnologia. Tento oferecer sempre uma visão do conjunto dessas tecnologias em suas relações com a sociedade.

Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/o-que-acordo-ford-volkswagen-revela-sobre-ind%C3%BAstria-automotiva-kato/?trk=eml-email_feed_ecosystem_digest_01-recommended_articles-5-Unknown&midToken=AQHN4zOz_3XqTA&fromEmail=fromEmail&ut=0Cstr1x-lcO8A1

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